Reza a lenda que o famoso psicólogo behaviorista americano BF Skinner certa vez disse que, se ele tivesse uma criança, ele poderia moldá-la em o que quisesse. Não sabemos ao certo se ele realmente disse isso, mas seu trabalho certamente aponta para essa direção. Skinner, assim como outros behavioristas, estudava o porquê de as pessoas se comportarem de determinada maneira e como certos comportamentos poderiam ser impostos.
Será que é possível controlar (ou até condicionar) o comportamento do outro? Vamos entender um pouco o que a neurociência e a psicologia podem nos contar sobre isso.
Neuropsicologia do comportamento
Podemos dizer que o cérebro utiliza dois sistemas que orientam nosso comportamento. O primeiro é o que geralmente guia os animais e está relacionado ao que Daniel Kahneman classifica como Pensando Rápido. É a capacidade que nosso cérebro tem de fazer julgamentos rápidos com base em estruturas automatizadas as quais adquirimos ao longo da evolução e por meio do reforço. O segundo sistema é o Pensando Devagar. Este requer um esforço de pensamento e raciocínio. Tem a ver com a parte “racional” de nossos cérebros, particularmente o córtex pré-frontal.
Digamos que você tenha um gato. Um novo elemento que este gato nunca tinha visto antes é introduzido no ambiente. O que acontece? O gato fica incrivelmente desconfiado devido a um instinto que foi “ativado” no seu cérebro. Este é o sistema dominante dos animais porque eles não desenvolveram um córtex sofisticado como nós. Porém, há algo interessante: gatos e humanos são criaturas de hábitos. Mecanismos muito semelhantes são ativados quando fazemos algo por puro hábito. É como um instinto.
O que tudo isso tem a ver com o mau comportamento?
Bem, talvez não muito, dependendo da frequência com que o aluno faz isso. Quando perguntei por que os estudantes não se comportam em classe nas minhas redes sociais, recebi muitas respostas e a maioria delas girou em torno de falta de interesse e tédio, culpa dos pais, problemas em casa, busca de atenção e falta de respeito ou relacionamento com o professor.
Mas esse é o caso de estudantes que tem um eventual problema. E aqueles que sempre, ou pelo menos quase sempre, se comportam mal? Isso tem muito a ver com a formação de hábitos. Aquele aluno que tem muitos problemas para permanecer na tarefa pode precisar de atenção especial por causa de TDAH, autismo e / ou dislexia.
Mas essas condições precisam de um diagnóstico adequado e não vou discuti-las agora. Estou me referindo a estudantes que são neurotípicos e ainda não conseguem gerenciar seu comportamento.
O que posso dizer de uma perspectiva neurocientífica? Esse comportamento, ou a falta dele, pode ter se tornado um hábito e eles podem nem saber que estão fazendo isso. Do ponto de vista psicológico, o reforço de certos comportamentos por meio da repetição e da recompensa pode fazer com que eles permaneçam assim e que seja difícil de remediar.
O que podemos fazer então?
Já ouviu falar de Charles Duhigg e seu livro The Power of Habit – O Poder do Hábito? Nele, Charles descreve um mecanismo bem conhecido na psicologia que se relaciona com a formação de hábitos. É um loop que começa com um GATILHO, nos leva à ROTINA (o próprio hábito), porque isso nos dá uma sensação de RECOMPENSA. Em outras palavras, sempre que o gato vê um objeto estranho (GATILHO), isso ativa o comportamento suspeito / cauteloso (ROTINA) e, por fim, leva à RECOMPENSA (permanecer vivo e sem perigo).
O ciclo do hábito
E o seu aluno mal comportado? Uma maneira possível de ver isso seria assim: O GATILHO é o tédio, que leva ao mau comportamento com o propósito de ganhar alguns minutos da lição, porque você interrompe o que está fazendo para trazer o aluno de volta à tarefa. Ou talvez o mau comportamento leve o aluno a se divertir um pouco com seus colegas.
Como os entrevistados da minha pesquisa compartilharam gentilmente, pode haver muitos fatores que contribuem para desencadear o mau comportamento. Na verdade, pode estar relacionado a dificuldades de aprendizagem, falta de modelos, impulsividade e todas as outras coisas que eles mencionaram. O que podemos fazer então? Vou compartilhar algumas estratégias abaixo:
- Use pausas mentais. Quando eles sabem que haverá uma pausa em todas as lições, eles conseguem gerenciar seu comportamento e isso se torna um hábito. Leia mais sobre isso aqui.
- Quebrar um hábito normalmente significa identificar o GATILHO e substituir o COMPORTAMENTO por algo mais útil. Sempre que você sentir que um aluno está prestes a se comportar mal, você pode responsabilizá-lo por algo um pouco mais interessante, como escrever no quadro. Leia sobre diferenciação aqui.
- Os alunos que se comportam mal cronicamente podem estar sofrendo da incapacidade de prestar atenção. A meditação consciente pode ser uma aliada nesse caso. Você pode estabelecer alguns minutos em cada aula e guiá-los usando uma técnica de respiração bastante fácil que você pode copiar de um aplicativo chamado Headspace. Novamente, a idéia é fazer disso um hábito.
- A reflexão também pode se tornar um hábito. Você já tentou perguntar a aquele aluno que se comporta mal de uma maneira não ameaçadora por que ele faz isso? Peça a ele que pense sobre isso e use o método socrático para fazer mais e mais perguntas para tentar entender o problema e ajudá-lo.
- Em vez de focar no GATILHO, você pode focar na RECOMPENSA. Elogios e honestidade podem ser gratificantes se você usá-los para que os alunos saibam que tipo de comportamento você espera deles. Leia mais sobre RECOMPENSA aqui.
- Incorpore MOVIMENTO e ESCOLHA em suas aulas. Muitos de nossos alunos ficam sentados por horas antes das aulas e não aguentam mais. Permita com que eles façam um alongamento ou se levantem e andem um pouco às vezes.
- Seja paciente. Quebrar um mau hábito ou desenvolver um novo infelizmente leva tempo. É muito difícil mudar um hábito e requer força de vontade e reforço. Incentive-os a ficar no caminho certo. Leia algo relacionado aqui.
- Mantenha suas promessas e responsabilize seus alunos. Se você promete recompensar seus alunos pelo comportamento deles (ou até mesmo puni-los), faça o que disse. Leia sobre a importância das emoções aqui.
Autor: Andre Hedlund
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