Inovação tem sido tema recorrente em encontros, seminários, congressos de educação. Muitas vezes, inovar na educação é atrelado ao contexto de uso das tecnologias digitais na rotina escolar, levando as instituições a adquirirem recursos variados e que, nem sempre, cumprem seu papel…
Ao refletirmos sobre o tema, percebemos que inovar é encontrar formas de potencializar as ações de ensino e aprendizagem utilizando meios que motivem, que engajem os estudantes mas que, sobretudo, façam sentido na educação e não sejam apenas um trabalho a mais para pais e estudantes, ou um investimento ainda maior para a instituição.
Buscar novas formas que potencializam a aprendizagem é algo que não é novo na educação; em todas as épocas a escola buscou aprimorar processos porém, hoje, os recursos disponíveis podem ser aliados importantes e favorecer ainda mais as ações educacionais. O cuidado que se deve tomar, entretanto, é o de entender que os recursos digitais não têm um fim em si mesmos.
Eles são importantes, pois é essa a realidade do estudante do século XXI e a escola não pode se manter distante disso, mas é a forma com que serão utilizados que fará a diferença. Defendo que a inovação em sala de aula é muito mais metodológica do que tecnológica e cabe aos educadores, na troca com os estudantes, desenharem o melhor caminho para colocar em prática processos realmente inovadores.
Os passos devem ser dados de acordo com o momento em que cada instituição se encontra, de forma sustentada, incremental, com foco no estudante, não só nos aspectos cognitivos, mas pensando em processos educacionais que estimulem o desenvolvimento do pensamento crítico, da colaboração, da comunicação e da criatividade.
Inovação em sala de aula: learning by doing
Tendemos a considerar como mais um modismo, ou como mais uma novidade, que logo vai passar. Nesse caso, especificamente, não há nada de novo. Os estudos de John Dewey (1959), pautados pelo aprender fazendo (learning by doing) em experiências com potencial educacional, convergem com as ideias de Paulo Freire (1996), em que as experiências de aprendizagem devem despertar a curiosidade do aluno, permitindo que, ao pensar o concreto, conscientize-se da realidade, possa questioná-la e, assim, a construção de conhecimentos possa ser realmente transformadora.
John Dewey (1910) defendia algo que pode ser chamado de “ensino centrado no aluno”, que considera o estudante no centro do processo. Mesmo sabendo que isso significa sua relação com outros estudantes, com o docente e com diferentes fontes de informação ou conteúdo, considerar o estudante no centro do processo significa entender que os estudantes não são receptores passivos, mas que assumem responsabilidade pela construção de conhecimentos e, para isso, precisam ser estimulados, por meio de experiências de aprendizagem significativas, a terem um papel ativo.
As instituições de ensino de educação básica, de maneira geral, a partir da aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), começaram a repensar aspectos importantes da inovação na sala de aula. Aulas em que crianças e jovens ficam enfileirados, assistindo à palestra de um professor que oferece a mesma aula, de um para muitos, é algo que, aos poucos, vem perdendo força.
Há uma organização em que a referência já não é o professor como centro, na frente da turma, palestrando. Essa nova configuração do espaço contribui para repensar a cultura escolar e transmite a mensagem de que é possível aprender de várias maneiras e não apenas recebendo informações de uma única pessoa. Nesse sentido, a sala de aula passa a ser, cada vez mais, o espaço que oferece experiências de aprendizagens diversas, conectadas às características e às necessidades dos estudantes.
O texto introdutório da BNCC apresenta como característica a defesa de propostas, em todos os componentes curriculares, que priorizem as metodologias ativas. Nesse sentido, muitos professores costumam fazer uso de algumas práticas que motivam os estudantes, principalmente aquelas que incluem os recursos digitais.
Cabe refletirmos, entretanto, que apenas utilizar uma determinada prática para motivar os estudantes é algo interessante e pode ser considerado como o exercício, pelo professor, de aproximar suas aulas do que se propõe em documentos como a BNCC. Porém, nem sempre essa prática se configura como uma metodologia ativa porque, para isso, precisa pensar o aluno no centro desse processo, além de oferecer possibilidade de desenvolver a autonomia e o protagonismo.
A formação de professores precisa envolver a homologia de processos. Tanto a formação inicial quanto a continuada devem oferecer oportunidade de os professores vivenciarem experiências diversas para que percebam o potencial de aprender por meio de metodologias ativas e, assim, identifiquem o impacto desse formato, reflitam sobre o tema e sintam-se confortáveis para utilizar em seu planejamento.
Desenhar experiências de aprendizagem transforma o papel do professor, que deixa de ser alguém que transmite conteúdos e verifica se eles foram apreendidos, para um designer de percursos educacionais. Para desenhar esses percursos, é importante que o educador tenha dados em mãos, dados que são obtidos por meio de uma avaliação formativa, digital ou não, e que podem incluir as plataformas adaptativas, questionários online, além da observação, discussão, interação “olho no olho”.
Diversas pesquisas (BACICH, TANZI NETO, TREVISANI, 2015; BACICH, MORAN, 2017) têm enfatizado esse olhar para a personalização em que os estudantes podem ser estimulados a entrar em contato com diferentes experiências de aprendizagem, aquelas de que necessitam, porque têm dificuldade, e aquelas que podem oferecer oportunidade de irem além, pois não estão relacionadas às suas dificuldades, mas às suas facilidades. Essas experiências podem envolver diferentes elementos, digitais ou não, que favoreçam a comunicação, a colaboração, a resolução de problemas, pensamento crítico.
Considerar a personalização é uma das formas de aproximação do conceito de equidade, defendido pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e, pensar que não é possível oferecer a mesma aula a todos, porque as pessoas são diferentes em diferentes aspectos, aprendem em ritmos, tempos e formas diferentes, aumenta ainda mais a necessidade de aprofundar o olhar para as metodologias ativas como possibilidades de que nossos estudantes aprendam mais e melhor durante o tempo que passam na escola.
Learning by doing: um TED Talk para inspirar
Ebook Edify – Mapa de Tendências – Módulo I.
Autor: Lilian Bacich
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