Como fazer para que meus/minhas alunos/alunas se sintam motivados/as a participar das atividades propostas no decorrer das aulas? Como fazê-los interagir de forma natural e prazerosa? Como estimulá-los a pensar, a chegarem a soluções de problemas e a se engajarem mais? Questões relativas ao engajamento de alunos são muito comuns no momento em que os professores de inglês estão preparando suas aulas. Antes de respondê-las, entretanto, precisamos voltar um pouquinho no passado.
Em meados dos anos 1970 e 1980, o método áudio-lingual, surgido no período da Segunda Guerra Mundial, foi amplamente difundido em escolas de idiomas por todo o Brasil. Tal método era, de certa forma, baseado em hábitos adquiridos por processos mecânicos, muito próximos a uma forma behaviorista de se conceber o processo ensino-aprendizagem. Nessa perspectiva, a aprendizagem acontecia por meio de estímulos, repetições, memorizações e compensações.
A partir dos anos 1990, no entanto, a abordagem comunicativa [communicative approach] ganhou mais espaços e adesão nas escolas de idiomas, trazendo conceitos baseados em ideias segundo as quais existe uma real interação entre os alunos em atividades de fato significativas para eles, além do uso de tecnologias contemporâneas que fazem com que os estudantes sintam maior interesse e curiosidade em se envolver e, por consequência, aprender.
Certamente, outros métodos de ensino surgiram nas décadas entre 1970 e 1990, porém a abordagem comunicativa foi a que parece ter melhor atendido aos estabelecimentos de ensino, ainda muito recorrente em escolas.
Em geral, os métodos são considerados “receitas médicas”, o que significa que o ‘sucesso’ ou o ‘fracasso’ do estudante depende da abordagem empregada. Essa ideia faz com que a aula fique integralmente centrada no professor, ou seja, ao professor cabe única e exclusivamente a aplicação das teorias e modelos – ‘engessados’ – e aos alunos cabe, unicamente, o papel de ‘receptores’ e ‘repetidores’ de informações. Aqui cabe uma dúvida: será que é possível fazer todos apreenderem um conteúdo ao e no mesmo tempo?
Nunca é demais lembrar que as pessoas são diferentes. Mesmo! Cada uma tem sua impressão digital, seu DNA, sua forma de ver e de viver. Irrepetíveis. Únicas.
Até em casos da área da saúde já se comprovou que duas pessoas podem apresentar o mesmo problema; entretanto, dependendo de uma série de fatores pessoais – e únicos – o médico pode selecionar diferentes tratamentos. Com isso, queremos dizer que nem uma ‘receita médica’ tem garantias de ‘sucesso’ ou certezas de ‘fracasso’.
Retomando os processos de ensino-aprendizagem de idiomas, com o contínuo desenvolvimento das pesquisas, chegamos aos conceitos de ensino reflexivo e pesquisa-ação, além de ensino cooperativo, que foram trazidos pela abordagem comunicativa. Tais conceitos convocam professores a analisar e a selecionar atividades a serem propostas em sala de aula de modo que os estudantes se engajem nas proposições.
Certamente, muito mudou – e continua mudando – para benefício dos professores, motivo de muitos agradecimentos e saudações.
Antes, a sala de aula era considerada o único lugar adequado para acontecer o processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, os professores tinham que fazer o melhor possível utilizando o quadro, o giz, a voz e os livros. Rolos de filmes e fitas cassete também apareceram para ajudar professores naqueles processos. Ainda assim, o ensino continuava e dependia muito dos professores [teacher centered].
Alunos raramente tinham oportunidades para participar ativamente. Então, cabe outra pergunta: qual o sentido de se passar horas recebendo, processando e assimilando informações que, em pouco tempo, serão esquecidas, apagadas ou deletadas?
Hoje em dia, a sala de aula não é mais o ambiente adequado para que o processo ensino-aprendizagem aconteça. Finalmente se chegou à óbvia conclusão de que apre(e)ndemos o tempo todo, diária e cada instante.
Vamos considerar alunos da contemporaneidade: eles têm acesso a um número muito grande de recursos tecnológicos que os aproximam ainda mais de uma aprendizagem mais efetiva e afetiva porque é sempre muito prazerosa. De modo geral, os computadores e as tecnologias de informação e comunicação são móveis e estão disponíveis para a maioria dos estudantes. Isso faz com que qualquer processo, inclusive o ensino-aprendizagem, esteja e seja mais centrado (e dependente) deles/delas.
Nesse caso, não é exagero pressupor que alunos têm se tornado protagonistas e não mais coadjuvantes em espaços de construção e compartilhamento de saberes, como as salas de aula. Se num passado não muito remoto, os estudantes faziam uso de laboratórios de computadores; atualmente, as escolas têm transformado aqueles espaços em centros multimídia que devem os ajudar ainda mais no processo de ensino aprendizagem, tornando-os mais ativos e engajados.
Dito de outra forma, parece que no passado os alunos foram ‘adestrados’ a simplesmente replicar algo que havia sido previamente ensinado pelo professor. Hoje, sem dúvidas, eles são muito mais estimulados a pensar, a reagir, a apresentar soluções em vez de replicar/repetir o que foi previamente ensinado.
Sendo mais questionadores, curiosos e dispondo de tecnologias múltiplas em casa – e mesmo na palma da mão! –, os alunos de hoje interagem em pares ou grupos em sala de aula e também por meio de atividades que podem ser enriquecidas com informação, áudio e vídeo trazidos da internet. Essa contextualização ajuda o professor a fazer com que os estudantes usem a imaginação, sejam colaborativos, negociem soluções para algumas situações e que, ao convocarem o senso crítico, cheguem às respostas ou aos resultados em comum acordo. Isso, sem dúvidas, gera mais interação e torna o processo ensino-aprendizagem mais dinâmico e agradável.
A sala de aula invertida [flipped classroom] seve como exemplo. Nesse caso, os alunos são estimulados/as a interagir online, trocando ideias e informações e compartilhando material. Dessa forma, desenvolve-se a colaboração, o senso de pró-atividade e a aprendizagem. O tempo em sala de aula é usado para sanar dúvidas e garantir a compreensão do conteúdo com muita interação e experiências de aprendizagem motivadoras sem que o professor seja o protagonista, ou sem que dele dependa o ‘sucesso’ – ou mesmo o ‘fracasso’ – do processo.
Desse modo, mais uma pergunta se impõe: como fica o professor nos dias de hoje? Se, no passado, ele era o único responsável por aplicar um método e, então, testar seus alunos, atualmente eles não devem se restringir a aplicar ‘esse’ ou ‘aquele’ método de ensino. Pelo contrário, ativa e rotineiramente, os professores são responsáveis por criar, desenvolver e pesquisar materiais.
Essa rotina envolve testar atividades, trocar ideias, produzir material e reciclar e/ou substituir algo que não esteja adequado. Acima e antes de tudo: o professor de hoje deve manter-se reflexivo. Isto é, (re)pensar suas práticas pedagógicas e continuar estudando de modo a atender seu público-alvo: estudantes que confiam a tarefa de serem estimulados a seguir estudando.
Podemos notar o quanto os alunos ficam mais engajados quando são desafiados e envolvidos em atividades que têm significado. Eis o desafio maior: dar sentido às horas que são investidas em sala de aula. Em um mundo tecnológico onde as informações circulam em rápidos toques na tela de um celular, os professores precisam aprender a disso tirar máximo proveito em sala de aula, fazendo com que os alunos cheguem à solução dos problemas que surgem dessa multiplicidade de informações.
No aprendizado baseado em projetos (PBL), por exemplo, o engajamento e a dedicação dos alunos nas aulas ocorrem naturalmente. Os estudantes são convidados a aplicar os conhecimentos adquiridos para juntos chegarem a um objetivo comum. Essa interação em grupo faz com que trabalhem a cooperação e a empatia, além da responsabilidade. Os projetos ajudam também na comunicação, de modo que os alunos desenvolvam a importante capacidade da argumentação, proporcionando, assim, a conquista da excelência linguística.
As experiências vividas pelos estudantes fazem com que eles coloquem em prática conceitos como trabalho colaborativo, empatia e responsabilidade, além de ajudá-los a se tornarem cidadãos para o mundo. Ao serem estimulados a se engajar em sala de aula, eles não somente adquirem conhecimento, mas também aprendem a se comunicar, desenvolvem o senso crítico e o pensamento criativo. Esse engajamento acontecerá naturalmente, não só em sala de aula, mas também nos desafios que eventualmente enfrentarão no futuro.
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