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Como escolher a atividade digital adequada para o seu aluno?

Crianças interagem com produtos digitais e games de uma maneira diferente de nós, adultos, porque ainda estão desenvolvendo suas habilidades cognitivas e motoras. A maneira como elas resolvem problemas, realizam tarefas, usam o smartphone ou o computador, é influenciada pelo estágio de desenvolvimento que elas se encontram no momento, de acordo com sua faixa etária. Por isso, algumas atividades digitais e games são recomendados ou não para idades específicas, por conta de seus conteúdos e sua complexidade de uso.

Então, como podemos escolher as melhores atividades e games para os nossos alunos levando em consideração as fases do desenvolvimento e suas habilidades cognitivas?

Este artigo tem como objetivo compreender o que são habilidades cognitivas e motoras e como elas atuam em cada fase de desenvolvimento da criança. E por fim, dar algumas dicas de como você poderá escolher os recursos digitais para seus alunos de forma mais adequada.

O que são habilidades cognitivas?

De acordo com Linda Gottfredson, “habilidade cognitiva é definida como uma capacidade mental geral que envolve raciocínio, resolução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, compreensão de ideias complexas e aprendizagem por experiência.”. Em outras palavras, estamos falando sobre habilidades como:

  • Percepção: reconhecer sons, formas, símbolos e imagens.
  • Atenção: manter o foco em determinadas tarefas e objetivos.
  • Memória: memorizar fluxos, significados e interações.
  • Habilidades motoras: utilizar o mouse com precisão e realizar interações.
  • Linguagem: ler, escrever e interpretar textos e símbolos.
  • Processamento visual e espacial: compreender a relação entre objetos e composição de layouts.
  • Funções executivas: planejar para realizar tarefas e alcançar objetivos.

Ou seja, as habilidades cognitivas são essenciais para que possamos interagir com os produtos digitais e os games. Porém, as crianças não possuem todas essas habilidades totalmente desenvolvidas e esse desenvolvimento ocorre em um longo processo que acontece do nascimento até aproximadamente os 12 anos de idade.

Jean Piaget foi um psicólogo especialista em desenvolvimento infantil e é geralmente citado como referência na área da educação. Suas teorias sobre a mente da criança também podem nos auxiliar na escolha de recursos digitais que são adequados para a idade em que nossos alunos se encontram.

Segundo Piaget, existem quatro estágios de desenvolvimento da criança, mas como geralmente bebês não interagem com os recursos digitais, não trataremos sobre a fase deles neste artigo. As demais fases são:

  • Pré-operatório: 2 a 7 anos. Nesta etapa as crianças são egocêntricas, confundem o real com a fantasia frequentemente, não possuem noção de conservação, podem pensar em termos de símbolos mas não conseguem assumir a perspectiva dos outros.
  • Operacional concreto: 7 a 12 anos. A criança consegue pensar usando a lógica, mas somente com objetos concretos, tendo dificuldade com conceitos abstratos. Possuem uma compreensão espacial melhor, são capazes de criar classificações e ligações entre os objetos e estão no meio do processo de letramento.
  • Operacional formal: a partir dos 12 anos. Nesta etapa as habilidades cognitivas estão praticamente desenvolvidas. O adolescente é capaz de construir hipóteses, pensar de forma abstrata e possui um melhor conhecimento social.

A partir da teoria de Piaget, conseguimos visualizar melhor a evolução das habilidades cognitivas da criança e como ela poderá interagir com as atividades digitais e os games em cada etapa do seu desenvolvimento.

Habilidades motoras e o uso de dispositivos

Quando falamos sobre habilidades cognitivas das crianças, precisamos também falar sobre habilidades motoras que também se desenvolvem em um longo processo durante a infância. Existem basicamente três tipos de habilidades motoras:

  • Grossa: movimentos que envolvem grandes grupos musculares, por exemplo: saltar, saltitar, correr.
  • Fina: movimentos que envolvem pequenos músculos dos punhos e dedos, por exemplo: agarrar objetos, escrever, digitar.
  • Coordenação: combinação de habilidades motoras grossas e finas e a coordenação de diferentes partes do corpo, por exemplo: dançar, jogar um jogo.

A seguir temos uma lista que mostra o quanto está desenvolvido cada tipo de habilidade motora em cada etapa da infância, e quais os devices preferidos e os gestos dominados em cada idade. Vamos ver cada um deles:

3 a 5 anos

  • Habilidade motora grossa: limitada.
  • Habilidade motora fina: muito limitada.
  • Coordenação motora: muito limitada.
  • Devices preferidos: tablets e smartphones.
  • Gestos dominados: tapping, dar scroll e arrastar.

6 a 8 anos

  • Habilidade motora grossa: parcialmente desenvolvida.
  • Habilidade motora fina: limitada.
  • Coordenação motora: limitada.
  • Devices preferidos: tablets, smartphones e trackpad do notebook.
  • Gestos dominados: clicar com o mouse e trackpad, uso simples de teclas.

9 a 12 anos

  • Habilidade motora grossa: bem desenvolvida.
  • Habilidade motora fina: bem desenvolvida.
  • Coordenação motora: parcialmente desenvolvida.
  • Devices preferidos: tablets, smartphones, trackpad do notebook e mouse.
  • Gestos dominados: arrastar, dar scroll com o mouse e trackpad, coordenação complexa entre teclas e mouse.

Dicas de como escolher atividades digitais para seus alunos

Agora que compreendemos o que são as habilidades cognitivas e motoras e como elas afetam a experiência das crianças nos produtos digitais, vamos ver algumas dicas práticas de como podemos escolher atividades e games levando em consideração esses pontos.

Escolha o dispositivo que seus alunos preferem

Por conta de suas habilidades motoras em desenvolvimento, as crianças mais novas preferem smartphones e tablets, enquanto que as crianças mais velhas se sentem seguras tanto com o celular quanto com o computador.

Na hora de definir como será a sua atividade com o recurso digital, analise se a idade dos seus alunos corresponde ao dispositivo que vocês precisarão usar. Alguns games, por exemplo, só podem ser jogados pelo smartphone, enquanto outros só podem ser jogados no computador.

Nem todos os sites estão adaptados para serem usados da melhor forma no mobile e alguns programas só possuem versão desktop. Portanto, primeiro escolha o dispositivo mais familiarizado pelos seus alunos e então veja quais opções de atividades estão disponíveis para esse dispositivo.

Verifique se a atividade ou jogo possui instruções visuais claras e objetivas

O jogo ou a atividade digital que você escolheu possui um tutorial? Esse tutorial é bem explicativo, visual e de fácil compreensão para crianças da idade dos seus alunos? O jogo possui recursos para os jogadores que estão tendo dificuldades como dicas, avisos e orientações? Estas são algumas perguntas que você pode se fazer enquanto analisa as várias opções de games e atividades digitais.

Mesmo que você consiga explicar para os alunos como jogar, muitos podem se distrair, não prestar atenção ou mesmo assim ter dificuldades. Por isso, escolha os jogos que poderão te ajudar nessa tarefa. E lembre-se: quanto mais novos forem seus alunos, mais visuais e auditivas e menos textuais as instruções precisarão ser.

Verifique quais são as interações e os controles do game

Como vimos anteriormente, algumas interações podem ser complicadas para os alunos mais novos, como usar o mouse, arrastar objetos para locais muito específicos e usar a barra de rolagem. Por isso, este é outro ponto que você precisará considerar na hora de escolher sua atividade digital.

Para jogar os alunos vão precisar usar o mouse? Ou somente teclas do teclado? Quais interações eles vão precisar realizar? Arrastar, clicar, usar a barra de rolagem? Quanto mais novos forem seus alunos, mais simples essas interações precisarão ser, como games que só possuem uma tecla por exemplo. Já os alunos mais velhos vão preferir desafios maiores, com instruções mais complexas que demandam habilidade e rapidez.

Observe como seus alunos interagem com a atividade. Se muitos deles estiverem se sentindo frustrados, entediados ou abandonando o jogo provavelmente está sendo fácil ou difícil demais, nos alertando, então, para a inadequação da atividade.

Verifique se o conteúdo da atividade ou jogo é adequado

Sobre o conteúdo existem dois pontos que precisamos considerar:

O primeiro é se o conteúdo está de acordo com a idade dos seus alunos. Para isso, verifique se o jogo possui muitos textos, textos muito longos ou com palavras e contextos muito complexos para seus alunos. Se o vocabulário for muito avançado, por exemplo, os alunos não vão conseguir compreender instruções ou informações obtidas ao longo do jogo. Ou se os temas abordados pelo conteúdo forem muito abstratos e complexos, seus alunos não vão entender, deixando passar aprendizados importantes.

O segundo ponto que precisamos considerar é com relação à temática do jogo. Verifique se o jogo possui cenas de violência, se faz uso de palavrões, se reproduz estereótipos e preconceitos ou se contém conteúdos sensíveis que podem despertar gatilhos nos alunos.

Verifique se a interface do jogo é clara e de fácil usabilidade

Como as crianças mais novas ainda estão desenvolvendo suas habilidades motoras, produtos e games voltados para elas precisarão ser de fácil usabilidade, com botões grandes e bem visíveis, uso de ícones e textos curtos, navegação simples e mais elementos visuais e auditivos do que textuais.

E mesmo os alunos mais velhos podem ter dificuldade em utilizar algum produto se ele for composto por textos com fonte muito pequena, elementos com cores que não tenham contraste, dificultando assim a legibilidade, ou que tenham uma navegação confusa e não intuitiva.

Além disso, se você tiver alunos com deficiência, precisará buscar games e atividades que tenham ferramentas de acessibilidade, possibilitando assim que todos participem.

Peça a sugestão dos pais e… de seus alunos!

Se ainda estiver com dúvida sobre quais jogos ou atividades escolher você pode pedir sugestão para os pais e para seus próprios alunos também!

Afinal, os jogos que eles mais gostam são aqueles que não causam frustração neles, e que portanto foram criados para crianças da idade deles.

Além disso, dessa forma você também inclui eles nesse processo, fazendo com que sejam ouvidos e tenham uma atividade mais significativa e próxima à realidade deles. Após fazer esse levantamento com seus alunos, analise os pontos citados anteriormente para fazer a melhor escolha.

São muitas as opções de atividades digitais e games que temos disponíveis para nossos alunos atualmente, o que torna um desafio para nós selecionarmos as melhores opções. Por isso que considerar as habilidades cognitivas e motoras e a fase do desenvolvimento que nossos alunos se encontram nos ajudam a tomar a decisão mais assertiva e que irá gerar menos frustração para eles. Afinal, não podemos levar em consideração nessa escolha somente o conteúdo do recurso digital, mas toda a experiência que ele proporciona para a criança.

Autor: Alessandra Bortoletto Consorti

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