“Mindfulness” ou “atenção plena” é uma prática que está se tornando cada vez mais popular e pode trazer inúmeros benefícios para alunos e professores no ambiente escolar. O mindfulness na escola ajuda os os estudantes a regular melhor suas emoções, melhorar a habilidade nas relações sociais e, claro, aprimorar a atenção em sala de aula.
Esse tipo de meditação nos orienta a tomar consciência do momento presente, fixando nossa atenção voluntária e deixando os acontecimentos fluírem ao longo do tempo. Vale salientar que ela pode ser praticada sem nenhuma conotação religiosa.
Pesquisas no campo da neurociência mostraram com ressonância magnética, modificações nas estruturas cerebrais quando a prática da meditação acontece. O cérebro que medita interage de forma diferenciada com os estímulos e os efeitos benéficos sobre a atenção podem ser percebidos após poucos dias de início da prática. Essa forma de aprendizagem ocorre devido à capacidade que o cérebro tem de reorganizar-se constantemente, chamada de “neuroplasticidade”.
Brincando de Mindfulness
A intenção aqui é relatar minha experiência com crianças de 6 e 7 anos e a prática do mindfulness na escola. Tudo começou após um curso sobre parentalidade positiva. Durante as aulas fui apresentada ao livro “O Cérebro da Criança”, de Daniel J. Siegel e Tina Payne Bryson e à caixinha “Brincando de Mindfulness” de Patrícia Calazans.
“Brincando de Mindfulness” é uma caixinha com 50 cartinhas para pais e educadores ensinarem o mindfulness de forma lúdica. As atividades são bem variadas e divertidas e foram usadas em uma turma de dez crianças entre 6 e 7 anos. Os encontros com os alunos aconteceram duas vezes por semana durante cinco meses.
No primeiro dia, falei que iríamos fazer um jogo e que eles precisavam prestar muita atenção. Nesse dia, eu escolhi a atividade, pois tinha a intenção de encantá-los. As crianças deviam fazer a pose do seu super-herói favorito e ficar imóveis por um minuto.
A cada tentativa de movimento, eu fazia um gesto indicando que deviam ficar imóveis. Nessa primeira vez, eles acharam graça, mas à medida que o tempo foi passando, o desejo de realizar a tarefa designada foi maior que o riso. Terminamos a atividade de um modo muito gratificante. Pude perceber as crianças menos agitadas e felizes em fazer algo diferente.
Após a brincadeira, perguntei o que eles tinham achado e como estavam se sentindo. Os relatos foram bem parecidos: eles gostaram de fazer algo diferente e queriam repetir. Expliquei que tinha uma caixinha com games e que toda aula faríamos um diferente.
A partir de então, criei uma rotina com meus alunos e as cartinhas passaram a ser sempre a primeira atividade da aula. Fiz uma seleção prévia das que achei mais apropriadas para o perfil da turma. A cada aula, então, um aluno sorteava uma carta e fazíamos a atividade.
Em especial, pude perceber um grande contentamento quando fizemos exercícios respiratórios. Não acho que é uma impressão só minha, mas realmente acredito que as crianças estão sendo engolidas por tantas atividades e excessos. Quando param e prestam atenção na respiração, elas têm a oportunidade de sentir profundamente o corpo em ação e fazer uma conexão com elas mesmas.
Algumas atividades tiveram um resultado melhor do que outras, mas em todas as crianças aprenderam um pouco sobre autorregulação. Tivemos diversos momentos em que eles mesmos se percebiam mais agitados e falavam uns para os outros “Breathe!”.
A primeira vez que ouvi isso de um aluno, confesso que me emocionei! Tive a comprovação de que eles estavam começando a perceber que tinham o poder de lidar com suas emoções. E, além disso, focavam em ajudar os amigos a lidarem com as deles e estavam tentando viver em equilíbrio com os colegas e o entorno.
Acredito que esse tempo que gastamos nas nossas aulas com a prática da atenção plena, traz diversos ensinamentos para alunos e professores. Estamos sempre pedindo aos nossos alunos que prestem atenção, mas não os ensinamos a fazer isso. Da mesma forma que não ensinamos empatia ou como controlar os impulsos.
Com a minha experiência, posso dizer que integrar o mindfulness na escola contribui para o desenvolvimento desses aspectos e, por consequência, teremos um ambiente e desempenho escolar melhores, maior sensação de bem-estar e funções executivas mais eficientes.
Para finalizar, temos que lembrar que essa prática não deve ser obrigatória na sala. Ela precisa ser integrada ao cotidiano escolar de forma leve, lúdica e divertida. Vamos todos brincar de mindfulness!
Referências
J. SIEGEL, D. e PAYNE BRYSON, T. O Cérebro da Criança: 12 estratégias revolucionárias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho e ajudar sua família a prosperar. 1. Ed. – São Paulo: nVersos, 2015
Goleman, D. e Senge, P. O Foco Triplo: uma nova abordagem para a educação. 1. Ed. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2015
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