A cada ano, pessoas ao redor do mundo se unem para reforçar a importância de uma luta diária: o combate ao bullying, incentivando a empatia e fortalecendo os laços de afeto.
Substantivo da língua inglesa, bully, que significa brigão, valentão ou valentona, é uma palavra que infelizmente só existe porque ainda não acolhemos as diferenças. Com certeza o tema não é novo, mas a não ser que você seja um especialista, ainda deve ter muitas dúvidas sobre como lidar com essa situação.
Segundo a UNICEF, 1 em cada 3 crianças entre 13 e 15 anos é vítima regularmente de bullying no ambiente escolar. No Brasil, embora conte com uma legislação específica há alguns anos, e já seja estudado desde o final da década de 90, ainda encontramos muitas lacunas a serem pesquisadas para que possamos entender melhor as raízes do problema e encará-lo com propostas e ações mais eficazes.
O bullying pode ocorrer em casa, no trabalho, mas em geral é no ambiente escolar, na sala de aula, que se dá a maioria dos casos. Muitas vezes, disfarçada de brincadeiras que parecem normais da convivência, encontra-se um tipo de violência persistente, metódica, cotidiana, que não precisa de uma justificativa para ocorrer.
Qualquer diferença na vítima pode ser o estopim para a não aceitação: religião, raça, estatura física, peso, cor dos cabelos, deficiências visuais, auditivas e vocais; ou é uma diferença de ordem psicológica, social, sexual e física; ou está relacionada a aspectos como força, coragem e habilidades desportivas e intelectuais.
Essa violência pode ser psicológica e física, verbal, sexual ou virtual, velada ou explícita. Envolve uma dinâmica onde quem agride de alguma forma percebe vulnerabilidade no outro, que se não possui estratégias internas para lidar com a situação, sofre silenciosamente e passa a apresentar mudanças em seu comportamento como aumento das faltas e a queda no rendimento escolar, perda de sono, irritabilidade, retraimento e até consequências mais graves, como depressão ou suicídio.
Na maioria dos casos o agressor pode ser classificado em dois tipos: alguém que é agredido em outro ambiente e passa também a agredir ou alguém que possui um distúrbio de personalidade, pois sente prazer em agredir ou ver o sofrimento da vítima. Qualquer estratégia para lidar com a questão precisa envolver e ajudar não só quem é agredido, mas também quem agride.
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O que fazer? Por onde começar o combate ao bullying?
Não existe uma receita. Cada caso precisa ser visto como único e os envolvidos atendidos nas suas necessidades individuais, mas podemos fazer algumas reflexões e pensar caminhos.
O primeiro ponto é não esperar o problema surgir para iniciar uma ação. O bullying existe e provavelmente já acontece dentro ou fora da sua sala de aula mesmo que você não saiba. Ele existe em todo o mundo nos mais diversos contextos culturais ou econômicos.
A conscientização já é obrigatória em todo o Brasil desde a publicação da Lei 13.663/18, quando passou a ser atribuição das escolas a promoção da cultura da paz e medidas de conscientização, prevenção e combate a diversos tipos de violência, como o bullying. É preciso agir de forma preventiva e não apenas reativa, envolvendo toda a comunidade escolar em um trabalho permanente de educação sobre o tema, além de desenvolver competências socioemocionais. E, principalmente, criar um ambiente de segurança e afeto para todos.
Pesquisas sobre como as vítimas enfrentam a situação mostram que a estratégia mais efetiva para superação da violência é buscar ajuda de alguém que seja uma referência afetiva. A maioria das crianças e adolescentes elege um dos pais como aquele a quem vai confiar seu sofrimento.
Quando os pais acolhem a queixa, orientam estratégias de convivência e tomam atitudes objetivas como buscar a escola e trabalhar em conjunto construindo soluções, a criança ou o adolescente se sente seguro e pode manter ou recuperar a estrutura emocional.
Infelizmente, se a queixa é minimizada e as atitudes de bullying são vistas apenas como brincadeiras normais dentro de um grupo, as consequências se agravam, a sensação de desamparo aumenta e o desenvolvimento afetivo e cognitivo é comprometido. É preciso que os pais, professores e toda a comunidade escolar estejam disponíveis para serem tutores de resiliência.
A Biologia do Amor
Pensando na Biologia do Amor de Humberto Maturana, renomado biólogo e pesquisador chileno, precisamos voltar a questão central do bullying que é a não aceitação da diferença.
Na ótica da Biologia do Amor a colaboração e aceitação das diferenças é o que permitiu que nossa espécie sobrevivesse. Não sobreviveu o homem mais forte, mas sim aquele que soube cooperar e viver em grupo. Mesmo o mais forte sozinho não sobreviveria. Esta é uma mudança de paradigma para o olhar da nossa biologia onde o amor, o afeto e a construção de relações significativas por meio da aceitação do outro nos permitiu continuar existindo.
Maturana vai além quando nos provoca dizendo que tolerar ainda não é o suficiente. A tolerância é um passo crucial, mas é preciso ir além e aceitar o outro (mesmo que não aceitemos suas atitudes) e juntos estabelecermos uma “dança afetiva” onde ambos vão se construindo e reconstruindo. A aceitação cria espaço para ouvir, rever e mudar.
Esse olhar afeta a abordagem dos programas de desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Na verdade, não estamos criando algo, estamos apenas caminhando na nossa linha evolutiva. Nossa biologia é a do amor, da colaboração e da aceitação da diferença e é privilegiando laços afetivos e a construção de relações significativas que continuaremos nossa história como espécie.
Conscientizar a população mundial para esta forma de violência, apoiar e incentivar as vítimas a denunciarem essas graves situações e encontrar formas de as prevenir são os desafios diários, bem como na educação nos lembrar que a nossa origem biológica nos tornou plenamente capazes de amar e aceitar uns aos outros. Precisamos criar nossas crianças e adolescentes nesta perspectiva: somos seres que evoluímos no amor e dependemos dele para seguir em frente.
Combate ao Bullying nas Escolas: A Importância da Lei
A promulgação da Lei 14.811/24 representa um marco significativo no cenário jurídico brasileiro, inserindo o bullying e o cyberbullying como crimes no Código Penal. A legislação destaca a importância da Ata Notarial como instrumento fundamental para registrar e reconhecer essas ocorrências, proporcionando segurança jurídica à veracidade dos fatos. O conceito de “Intimidação sistemática” no novo artigo 146-A do Código Penal abrange práticas repetitivas de violência física ou psicológica, incluindo intimidação, humilhação, discriminação, e a pena varia de multa a reclusão, dependendo da gravidade do crime.
A “Intimidação sistemática virtual” é abordada no mesmo artigo, estabelecendo penas mais severas, refletindo a gravidade do cyberbullying. A legislação surge em um contexto sociodigital, onde as redes sociais e meios digitais se tornaram onipresentes. O aumento notável nos registros notariais de bullying e cyberbullying no último ano, 2023, ressalta a necessidade de compreender e enfrentar esses problemas, não apenas com tratamento respeitoso, mas também com medidas legais e preventivas.
A Ata Notarial, respaldada pelo artigo 384 do CPC, destaca-se como um instrumento jurídico crucial, conferindo fé pública aos eventos registrados. Desempenhando papel vital na persecução penal, a Ata Notarial é uma prova antecipada e imparcial, essencial na tipificação de crimes como o bullying e o cyberbullying. Sua relevância transcende o aspecto jurídico, assumindo um papel educativo na conscientização social e prevenção desses crimes.
5 Atividades em Aulas de Inglês para Combater o Bullying
1. Debate e Discussão
Inicie as aulas de inglês com debates sobre o bullying, incentivando os alunos a expressarem suas opiniões em inglês. Discussões abertas promovem a conscientização e proporcionam um ambiente seguro para os estudantes compartilharem experiências. Isso não apenas melhora as habilidades linguísticas, mas também contribui para o entendimento mútuo e a empatia.
2. Produção de Textos
Peça aos alunos que escrevam redações ou ensaios em inglês abordando o tema do bullying. Esse exercício não apenas desenvolve as habilidades de escrita, mas também permite que os alunos reflitam sobre as consequências do bullying e expressem suas ideias de maneira construtiva. Os textos podem ser compartilhados em sala de aula, promovendo a troca de perspectivas.
3. Dramatizações e Role-playing
Organize atividades de dramatização em inglês, onde os alunos podem representar situações de bullying e, em seguida, explorar soluções alternativas. Isso não só aprimora as habilidades de expressão oral em inglês, mas também ajuda os alunos a desenvolverem empatia ao assumirem diferentes papéis. O foco na resolução pacífica de conflitos é fundamental.
4. Projetos Colaborativos
Incentive projetos em grupos que abordem o bullying de maneira criativa. Os alunos podem criar apresentações, vídeos ou até mesmo peças teatrais em inglês que transmitam mensagens positivas sobre o respeito e a inclusão. Essa abordagem colaborativa não só reforça o uso do idioma, mas também promove o trabalho em equipe.
5. Podcasts de Empatia e Respeito em Inglês
Explore a tecnologia e a expressão oral ao orientar os alunos na criação de podcasts em inglês sobre temas relacionados à empatia, respeito e prevenção do bullying. Divida-os em grupos, permitindo que escolham abordagens criativas, como entrevistas fictícias, debates ou histórias inspiradoras. Os podcasts não apenas aprimoram as habilidades de fala em inglês, mas também oferecem uma plataforma única para os alunos compartilharem mensagens impactantes sobre a importância de construir uma comunidade escolar acolhedora. Estes podcasts podem ser compartilhados internamente na escola ou até mesmo disponibilizados online para alcançar um público mais amplo.
A Ata Notarial, conforme destacado pela recente legislação, desempenha um papel crucial na documentação e comprovação de incidentes relacionados ao bullying. Durante as atividades em sala de aula, os alunos podem ser instruídos a considerar a importância desse instrumento legal ao abordar casos fictícios ou reais de bullying, promovendo a compreensão da relevância da Ata Notarial na justiça e na proteção das vítimas.
Integrar essas atividades ao currículo de inglês não apenas aprimora as habilidades linguísticas dos alunos, mas também contribui para a criação de um ambiente escolar mais seguro e inclusivo. A conscientização sobre o combate ao bullying aliada à aplicação efetiva da nova lei e da Ata Notarial constrói uma sociedade mais resiliente diante dos desafios representados por essas práticas prejudiciais.
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