Todos temos emoções e estabelecemos vínculos com o conhecimento e com as pessoas. A comunidade escolar está interligada na teia do saber, e cada um de seus integrantes desempenha um papel relevante na formação dos cidadãos do futuro. Entender essas emoções e aprender como lidar com elas é parte importante da construção de conhecimento. A esse processo damos o nome de aprendizagem socioemocional, tema que vamos discutir nesse artigo.
A importância das emoções na aprendizagem
Estudos nas áreas de Educação e Neurociências comprovam a importância das emoções no processo de aprendizagem. O trabalho intencional com as emoções promove melhoria no comportamento e na convivência entre alunos. Isso contribui para um ambiente escolar mais favorável à aprendizagem e à construção de relacionamentos mais positivos, o que aumenta a atenção e o desempenho acadêmico.
Em todo o país, educadores de instituições de ensino públicas e privadas têm se debruçado sobre o tema, provocando indagações relevantes para a prática educacional. No Seminário DoCEntes, promovido pelo governo do Ceará, educadoras trouxeram uma interessante reflexão sobre o letramento científico mediado pelas competências emocionais, destacando a importância de profissionais que saibam gerenciar emoções, tenham empatia e saibam se comunicar.
Outro estudo relevante sobre habilidades socioemocionais em contextos educativos trouxe possíveis respostas ao questionamento em torno do resgate da afetividade na formação docente e discente, destacando que esses aspectos precisam ser exercitados de forma intencional e sistemática nas práticas pedagógicas, nos campos de conhecimento e nas relações humanas.
A pesquisa aponta ainda que a educação socioemocional e a afetividade, quando presentes no processo escolar, planejadas e aplicadas com intencionalidade pedagógica contribuem para a construção de indivíduos mais solidários, empáticos e responsáveis.
A educação socioemocional está ligada a vários aspectos da vida das pessoas e traz benefícios se implantada nas escolas, conforme destacou a especialista norte americana Pamela Bruening em entrevista à revista Educação.
Dessa forma, te convidamos a refletir sobre a importância do desenvolvimento da aprendizagem socioemocional no contexto escolar. Acreditamos que as crianças e jovens devem ser desenvolvidos em sua integralidade, considerando-se os aspectos cognitivos, éticos, socioemocionais, culturais e físicos.
Assim, esses alunos estarão preparados para fazer escolhas responsáveis, baseadas em seus projetos de vida e também estarão equipados para transitar em diferentes contextos através da ampliação de seu repertório linguístico e do fortalecimento de suas capacidades de resiliência, adaptabilidade e de construção e manutenção de relações humanas mais positivas.
O que é aprendizagem socioemocional?
É o processo através do qual crianças e adultos compreendem e aprendem a lidar com suas emoções, estabelecem e alcançam objetivos, sentem empatia pelos outros, constroem e mantêm relações sociais positivas, associadas à tomada de decisões responsáveis.
Há mais de 20 anos o Casel (The Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning) desenvolve pesquisas e estudos no campo da aprendizagem socioemocional. Recentemente a instituição atualizou sua definição e seu modelo conceitual para aprofundar e esclarecer os fundamentos da aprendizagem socioemocional. Confira aqui:
“A aprendizagem socioemocional (ASE) é parte integrante da educação e do desenvolvimento humano. A ASE é o processo pelo qual toda criança, jovem e adulto adquirem e aplicam conhecimentos, habilidades e atitudes para desenvolver identidades saudáveis, gerenciar emoções, alcançar objetivos pessoais e coletivos, sentir e demonstrar empatia pelos outros, estabelecer e manter relacionamentos de apoio e tomar decisões responsáveis e cuidadosas.
A ASE promove a equidade e a excelência educacional por meio de parcerias efetivas entre escola, família e comunidade, que estabelecem ambientes de aprendizagem, experiências e relacionamentos amparadas na confiança e na colaboração, um currículo estruturado e significativo com instrução direta e avaliações contínuas. A ASE pode ajudar a diminuir diversas formas de desigualdade e empoderar crianças, jovens e adultos para cocriar escolas prósperas e contribuir para comunidades seguras, saudáveis e justas.” (Casel)
Para mais detalhes, assista a entrevista de Karen Niemi, presidente e CEO de Casel, realizada em 09/10/2020 em que apresenta a nova conceituação.
O que são as competências socioemocionais?
Segundo a organização americana CASEL (Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning), a aprendizagem socioemocional tem por objetivo estimular a identificação, a compreensão e o gerenciamento das emoções nas relações pessoais e interpessoais para que tais conhecimentos e atitudes sejam utilizados na promoção de ambientes mais saudáveis e criativos.
Dessa forma, destaca a necessidade de se desenvolver as seguintes competências:
- autoconhecimento – capacidade de reconhecer as próprias emoções, pensamentos e valores e a compreensão de que afetam nosso comportamento.
- autorregulação – capacidade de administrar adequadamente impulsos e emoções em situações diversas, gerenciando o estresse e fomentando a capacidade de definir metas.
- consciência social – capacidade para se colocar no lugar do outro, exercitando a empatia, o respeito à diversidade e a compreensão das normas sociais em diferentes contextos, seja na família, na escola ou na comunidade.
- habilidades de relacionamento – capacidade de estabelecer e manter relacionamentos saudáveis e positivos. Além disso, ser capaz de comunicar-se efetivamente, de trabalhar de forma colaborativa, resolvendo conflitos de forma harmônica, desenvolvendo a escuta ativa e voluntariando-se para ajudar sempre que necessário.
- tomada de decisão responsável – capacidade de fazer escolhas atentas e edificantes, tomando por base padrões éticos e sociais, avaliando benefícios e consequências de ações diversas e seu impacto no bem estar individual, social e coletivo.
Como as competências socioemocionais dialogam com a BNCC?
As novas diretrizes propostas pela BNCC destacam as competências gerais como orientações para se fomentar o desenvolvimento integral dos alunos, de forma a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária, inclusiva e democrática.
Além disso, valorizam as habilidades socioemocionais como essenciais para a aprendizagem, o que se configura um importante passo na renovação da escola e do professor.
As competências socioemocionais representam recortes das competências gerais e devem ser abordadas de forma transversal no contexto escolar através de práticas pedagógicas. Assim, podem contribuir para uma maior autonomia de pensamento e atitudes dos alunos, reduzindo casos de indisciplina e melhorando os índices de aprendizagem.
Com isso, é importante destacarmos as seguintes competências:
- Autoconhecimento e autocuidado – compreende a capacidade de conhecer-se e apreciar-se, valorizando a diversidade humana com o objetivo de zelar não apenas pela sua saúde física e emocional, mas também pela dos outros.
- Empatia e cooperação – refere-se à capacidade de exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fomentando o respeito ao outro e às diferenças, promovendo acolhimento e inclusão de todos sem preconceitos e percebendo-se como parte de uma coletividade da qual também é co-responsável.
- Responsabilidade e cidadania – constitui a capacidade de valorização e apropriação de conhecimentos e experiências de forma a compreender o mundo do trabalho e fazer escolhas condizentes com princípios éticos, criticidade, responsabilidade, liberdade e autonomia.
A partir desses apontamentos, fica claro o papel ativo dos alunos no processo de aprendizagem e o quanto as competências promovem o desenvolvimento de habilidades e trazem impactos relevantes para a sociedade.
Outro ponto importante a ressaltar é que comportamentos sociais e emocionais podem e devem ser ensinados. Para que tal desenvolvimento aconteça, é necessário um empenho da comunidade escolar e a aplicação intencional de atividades que proporcionem essa aprendizagem na vida cotidiana dos alunos. Isso tudo deve acontecer em um ambiente participativo, equitativo, onde a escuta ativa esteja presente, com clareza de objetivos e instruções.
Aprendizagem socioemocional na sala de aula Edify
O Edify oferece em seus materiais didáticos oportunidades para desenvolver habilidades socioemocionais. No entanto, na prática, percebemos a necessidade de aprofundar o olhar e sensibilizar os professores para a relevância e o alcance dessas atividades.
Notamos que o foco dos docentes permanecia nos aspectos linguísticos e não conseguiam desenvolver as habilidades socioemocionais, conforme proposto. Assim, realizamos um estudo de caso envolvendo turmas do Ensino Fundamental 1 de escolas parceiras.
Inicialmente fizemos uma dinâmica de sensibilização com os professores para despertar reflexões acerca da aprendizagem socioemocional em sala de aula e aplicamos questionários e atividades específicas envolvendo o tema para exercitar a percepção dos professores, o engajamento dos alunos, e mensurar os impactos alcançados ao longo do processo. A experiência trouxe significativas reflexões.
Um trabalho socioemocional consistente e planejado trará benefícios não só acadêmicos como também sociais para alunos, professores e toda a comunidade escolar.
Lembramos que é essencial a criação de um vínculo entre alunos e professores para estabelecer uma relação de confiança, respeito e sentimento de pertencimento. Além disso, a intencionalidade educativa deve ser ressaltada, pois só assim o professor conseguirá um maior engajamento dos alunos, de forma a gerar um impacto positivo em suas relações, no ambiente escolar e na comunidade.
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Autor: Jucymar Boccazio e Marcela Tavares Ribeiro
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