Individualidade. Atividade. Liberdade. Estes são alguns dos pilares do método Montessori. Nessa metodologia, defende-se o respeito aos interesses de cada estudante e aos estágios de desenvolvimento correspondentes às faixas etárias.
Maria Montessori, primeira mulher italiana a se formar em medicina, pesquisadora e pedagoga, entendia que, desde o nascimento, o humano já é um ser completo, com desejos e peculiaridades individuais. Por isso, seria necessário que a escola focasse apenas em desenvolver, de acordo com o crescimento biológico e mental específico de cada fase, habilidades, potenciais criativos e vontade de aprender.
A prática do método montessoriano é inspirada na natureza humana, criativa e curiosa, e conta com a sabedoria do professor como facilitador em sala de aula. A ele, cabe a tarefa de auxiliar os alunos no desenvolvimento da iniciativa pessoal e da concentração, mediando também os momentos de socialização resultantes dos trabalhos individuais.
É o educador quem deve garantir que os materiais didáticos estão dispostos de forma acessível aos alunos em sala de aula para que eles tomem a iniciativa de movimentar-se e interagir com seus colegas e com os recursos disponibilizados.
O método parte do conhecimento do que é concreto para o entendimento de conceitos abstratos. Assim como Piaget observou a importância do desenvolvimento sensorial e motor, Montessori defendia que o caminho do intelecto passa pelas mãos, porque é por meio do movimento e do toque que as crianças exploram e decodificam o mundo ao seu redor, sentindo tamanhos, formas, cores, texturas e pesos.
O uso dos materiais incentiva o processo de descoberta, o silêncio, a concentração e permite aos alunos movimentos livres, invertendo o foco da sala de aula tradicional que – quase sempre – é no professor.
Isso não significa que não exista livro-texto a ser trabalhado, mas sim que a importância reside no que o material permite uma escola montessoriana fazer a partir dele. O ensino de inglês, diferente do que o senso comum compreende, não precisa ser focado apenas em informações e repetições excessivas ou no ensino de base gramatical.
O aprendizado da linguagem, mais do que pelo estímulo auditivo-visual, acontece de forma consistente e completa se for construído um sentido físico e sensorial para que haja a compreensão de significados – inéditos até então – e para que o aluno consiga relacionar novas palavras para conceitos já conhecidos na língua materna. A experimentação física exerce um papel crucial na aquisição da linguagem.
Para que o ensino de inglês seja consistente dentro da educação montessoriana e que esteja de acordo com seus pilares, é importante que o livro-texto a ser utilizado foque no desenvolvimento das competências sensoriais e socioemocionais e tenha como base a interdisciplinaridade.
É essencial promover atividades que foquem nos movimentos e percepções do mundo ao redor, como a musicalidade (sons que nos envolvem, instrumentos musicais), psicomotricidade (coreografias, jogos, atividades que envolvam aspectos do nosso rosto e corpo, TPR – Total Physical Response), atividades práticas de matemática (reconhecimento de formas, quantidade, peso), arte e coordenação motora que envolvam barbante, linhas, lã, papel crepom e tinta.
Como as escolas montessorianas costumam trabalhar agrupadas (grupos de idade e estágios de desenvolvimento relativamente similar), também é significativo que o trabalho com os livros na mesa seja feito com foco comunicativo, coletivamente ou a partir de uma contextualização feita em roda, mas com cada aluno trabalhando em seu tempo. É também interessante o uso de algum tipo de material concreto na aula de inglês, como projetos, jogos ou algo que seja lúdico e estimulante.
Os projetos são muito bem-vindos, principalmente por lidarem com experiências de vida prática – estilo de aprendizagem também presente nestas escolas. Seu caráter cíclico, faz com que seja possível retornar em algum passo da atividade para avaliar jeitos diversos de realizar o mesmo projeto e auxilia os alunos a desenvolver diferentes visões sobre uma mesma atividade e pensar coletivamente.
A partir do material do livro em inglês, podem-se desenvolver projetos e atividades ao ar livre para observar as plantas, regar, plantar e entender como são formadas. É possível também promover uma visita ao refeitório para confecção de biscoitos ou salada de frutas. A linguagem vai aparecendo a partir das brincadeiras mão na massa, fruto da curiosidade natural dos alunos. Se eles sujarem as mãos, terão que lavar e aprenderão noções de higiene em inglês, por exemplo.
A educação montessoriana passa por muito envolvimento, pelo tempo individual de cada criança, comunicação e atividades concretas. A aprendizagem deixa de ser apenas receptiva e passa a tomar uma dimensão de performance: coloca o aluno como protagonista e concretiza o que foi estudado, estabelecendo um vínculo prazeroso entre o aluno e a linguagem.
Autor: Vanessa Vieira
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