Um dos grandes desafios na implementação de programas bilíngues em escolas é a formação de professores de língua adicional. Ou seja, de nada adianta materiais didáticos de vanguarda, ferramentas digitais e projetos inovadores se docentes não possuírem uma visão clara dos objetivos dos mesmos, domínio de técnicas de sala de aula e familiaridade com metodologias ativas, sem falar no pré-requisito de proficiência na língua adicional. Essa combinação de saberes potencializa aprendizados, vivências e experiências de emergentes bilíngues.
Alinhamento de objetivos e formação inicial
Primeiramente, é de suma importância que o treinamento inicial de professores reflita os objetivos e os princípios norteadores do programa. No nosso contexto educacional, destacamos os seguintes pilares pedagógicos: excelência linguística, abordagem interdisciplinar baseada em projetos, resolução de problemas e desenvolvimento de pensamento crítico, cidadania global e utilização de metodologias ativas.
Geralmente, formações iniciais intencionam capacitar professores para a implementação de um programa adotado em segmentos específicos, como, por exemplo, ensino infantil, ensino fundamental, etc. Sua duração pode variar de 18 a 30 horas iniciais presenciais, o que não impede que alguns tópicos possam ser abordados de forma híbrida. Com relação ao conteúdo, cursos de formação inicial em língua adicional poderão englobar temas relacionados às seguintes áreas:
- Projeto pedagógico do programa
- Abordagens metodológicas (abordagem comunicativa, metodologia de projetos, CLIL, etc.)
- Sistemas de linguagem (gramática, vocabulário e fonologia)
- Habilidades de linguagem (compreensão auditiva, leitura, fala e escrita)
- Técnicas de ensino de crianças pequenas, pré-adolescentes e adolescentes
- Gerenciamento de sala de aula
- Habilidades do século 21 (comunicação, colaboração, pensamento crítico, criatividade e habilidades socioemocionais)
- Metodologias ativas
- Letramentos digitais e midiáticos
- Materiais didáticos (linguísticos e eixos de conhecimento), projetos complementares, recursos digitais e laboratórios de aprendizagem
- Avaliação formativa e somativa
- Planejamento de aulas
O papel de observações de aula na formação continuada
Após formações iniciais, os professores idealmente deveriam contar com o apoio pedagógico de um mentor ou coordenador para ações específicas, como encontros periódicos. Estes podem incluir discussões relacionadas às questões do programa e materiais, preparação de atividades, projetos interdisciplinares da escola, necessidades específicas, estratégias para diferenciação, sistema de avaliação, desempenho dos alunos, mensuração de aprendizado, etc.
Além disso, enfatizamos a importância de observações de aula com caráter formativo pois possibilitam que docentes e mentores construam, em conjunto, um ciclo contínuo e individualizado de aprendizado e desenvolvimento acadêmico. Para tal, os processos observação de aula podem incluir os seguintes estágios:
- Agendamento de data para observação de aula presencial
- Compartilhamento e discussão sobre os critérios de avaliação de aula
- Elaboração de plano de aula pelo professor e submissão
- Discussão entre mentor e professor sobre o plano de aula
- Observação de aula e preenchimento de formulário (em papel ou online)
- Feedback oral
- Discussão sobre plano de ação
- Feedback escrito
- Implementação de plano de ação
Em paralelo, um programa bilíngue bem estruturado academicamente analisará os dados de observações de aula das escolas e desenhará planos de ação em conjunto com mentores, sempre levando em consideração o estágio de desenvolvimento individual de cada docente.
Estes planos podem ser individuais ou para toda a equipe de um segmento específico. Dentre as opções individuais, salientamos o planejamento de aulas em conjunto com mentores, leituras, observações de pares, “team teaching” (o mentor ministra um estágio de uma aula para demonstrar uma prática específica para o professor), gravação de uma aula (ou parte dela) para feedback próprio, reflexão e discussão posterior e autoavaliações.
Como desenvolvimento de equipe por segmento por escola, destacamos treinamentos específicos de práticas ainda em desenvolvimento, workshops sobre tópicos relevantes, planejamento de atividades extras em grupo e “swap shops” (workshops nos quais os professores demonstram práticas ou atividades para os pares). Essas ações pedagógicas visam contribuir para que a escola forme um time de excelência e proporcione aos alunos a otimização de experiências de aprendizado e vivências em língua adicional.
Competências adicionais
Porém, não podemos esquecer que o papel do professor transcende os conhecimentos de sua disciplina, técnicas e habilidades específicas. Perrenoud (2000) sugere que além de saberes, docentes necessitam desenvolver competências profissionais que vão além de seu domínio disciplinar, de caráter inovador e interpessoal:
- Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
- Gerar a progressão das aprendizagens.
- Conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam.
- Envolver os alunos em suas aprendizagens e no trabalho.
- Trabalhar em equipe
- Participar da gestão da escola.
- Informar e envolver os pais.
- Utilizar as novas tecnologias.
- Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.
- Administrar sua própria formação contínua.
Para que muitas destas práticas possam ser implementadas, é importante que pais e comunidade escolar sejam parte integrante dos processos de ensino e aprendizagem. Além disto, é essencial que professores coloquem seus alunos no centro do processo de aprendizagem. E por fim, é fundamental que docentes se tornam agentes de seu próprio desenvolvimento.
Autor: Cristiane Corsetti
Bibliografia
Bacich, Lilian; Moran, Jose ( 2017). Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora: Uma Abordagem Teórico-Prática.
Moran, Jose (2015). Mudando a educação com metodologias ativas. [Coleção Mídias Contemporâneas. Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens. Vol. II] Carlos Alberto de Souza e Ofelia Elisa Torres Morales (orgs.). PG: Foca Foto-PROEX/UEPG.
Perrenoud, Philippe (2000). Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre : Artmed Editora.
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