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Neurociência e o aprendizado na era digital

Smartphones, computadores, internet, redes sociais, videogames e plataformas digitais: a constante exposição a novas tecnologias impõem grandes desafios ao nosso cérebro, que está sujeito a constantes mudanças, pois a forma como criamos, lemos, produzimos, nos divertimos e nos comunicamos tem mudado a uma velocidade acelerada, principalmente quando pensamos nas crianças e adolescentes. Embora ainda haja muito estudo a ser feito sobre as alterações cerebrais no ambiente digital, já é possível descrevermos algumas dessas modificações, que podem trazer tanto benefícios, como pontos de atenção.

Conteúdo do Post

Circuitos cerebrais

O cérebro humano é formado por células super especializadas chamadas neurônios, que se comunicam entre si através das sinapses, que, por sua vez, formam nossos circuitos cerebrais. Quanto mais estímulos recebemos do ambiente no nosso dia a dia, mais os nossos circuitos neuronais são ativados e modificados para darem conta do volume de informações recebidas. Na era digital em que vivemos, será que conseguimos imaginar a extensão de conexões que nosso cérebro realiza no processo de aprendizagem? Para termos uma noção mais apropriada de como responder tal pergunta, precisamos entender uma característica fundamental do nosso cérebro: a neuroplasticidade.

Neuroplasticidade

Nosso cérebro é plástico, isto é, possui a capacidade de se adaptar e reorganizar a novas experiências, aprendizado, lesões ou mudanças presentes no ambiente. Sendo assim, o cérebro consegue, ao longo da vida, formar novas conexões neurais, reorganizar as que já existem, adaptando-se a diferentes estímulos e circunstâncias.

É justamente devido à neuroplasticidade que nosso cérebro consegue se adaptar ao uso frequente de dispositivos digitais. Ao explorar novos aplicativos, jogos ou recursos online, nosso cérebro é desafiado cognitivamente a formar novas conexões neurais e adaptar-se a diferentes tarefas e ambientes digitais, promovendo o desenvolvimento cognitivo e a aquisição de novas habilidades ao longo do tempo. Porém, temos aqui um ponto de atenção, principalmente quando se trata de crianças e adolescentes, pois o uso excessivo ou inadequado de tecnologias digitais pode levar a mudanças na organização neural, como diminuição da atenção, problemas de memória e impacto na saúde mental. Portanto, é essencial equilibrar o tempo gasto online com outras atividades que promovam a saúde cerebral e emocional. Não é preciso privar, mas é essencial que algumas atividades permaneçam no mundo real, para que crianças e adolescentes desenvolvam outras habilidades fora do digital.

Aprendizado interativo: motivação e emoção

Devido à neuroplasticidade, nossos cérebros estão ávidos por aprender e realizar novas conexões, porém precisam de motivação para seguir em frente. A motivação, por sua vez, está diretamente ligada ao sistema de recompensa do cérebro, que envolve a liberação de neurotransmissores como dopamina e serotonina, causando a sensação de prazer e recompensa. Essas sensações positivas fortalecem as conexões neurais ligadas ao comportamento, motivando, desta forma, o processo de aprendizagem.

Visto que os avanços tecnológicos são um caminho sem volta, as novas gerações têm no aprendizado interativo um elemento motivador. As tecnologias digitais oferecem diversos recursos educacionais interativos, como aplicativos, jogos educativos e plataformas de aprendizado online. Essas ferramentas podem tornar o aprendizado mais motivador, envolvente, acessível e adaptativo, permitindo que crianças e adolescentes aprendam em seu próprio ritmo e forma. Vale lembrar que quando estamos emocionalmente envolvidos em uma atividade estamos mais propensos a lembrar de informações e armazená-las na memória de longo prazo. Portanto, quando crianças e jovens estão motivados e emocionalmente envolvidos na aprendizagem, isso pode facilitar a retenção e a aplicação do conhecimento. No entanto, é sempre importante a busca pelo equilíbrio entre o mundo virtual e físico como um caminho mais seguro para um desenvolvimento cerebral saudável, papel a ser desempenhado de forma colaborativa entre educadores e família.

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Personalização do aprendizado

Um dos princípios da Neurociência é o de que não há cérebros idênticos. Cada cérebro é moldado pelas experiências vivenciadas por cada um de nós. Logo, o processo de aprendizagem é individualizado e aprendemos de formas diferentes. Quando se trata da era digital, pode-se pensar na personalização do aprendizado segundo as necessidades, preferências e estilos de aprendizagem de cada pessoa. Mediante o uso de tecnologias adaptativas e plataformas de aprendizagem, é possível o ajuste do conteúdo, o ritmo e o estilo do material de aprendizagem para o atendimento das necessidades específicas de cada indivíduo.

Criatividade e desenvolvimento cerebral

A criatividade desempenha um papel central no desenvolvimento cerebral, influenciando várias áreas e processos cognitivos, como a geração de novas ideias e resolução de problemas. Quando estamos envolvidos em atividades criativas, diferentes áreas do nosso cérebro são acionadas e passam a interagir entre si de formas complexas. Esse processo de estimulação neural pode levar ao crescimento e à formação de novas conexões entre os neurônios, promovendo um desenvolvimento cerebral saudável. A abordagem criativa torna o processo de aprendizagem mais envolvente e memorável, pois o cérebro é estimulado de diversas maneiras, que facilitam a retenção e a recuperação de informações, promovendo, desta forma, um elevado desenvolvimento cognitivo.

Na era digital, a exposição a dispositivos digitais pode ajudar crianças e adolescentes a desenvolverem habilidades tecnológicas fundamentais no mundo contemporâneo, como a alfabetização digital, resolução de problemas e pensamento crítico. As tecnologias digitais também oferecem ferramentas valiosas para a expressão criativa, como edição de vídeo, design gráfico, música digital e programação, que permitem que jovens experimentem, criem e compartilhem seu próprio conteúdo de maneiras inovadoras.

Memória

Na era digital, somos constantemente expostos a informações digitais, como mensagens de texto, e-mails, notificações de mídia social e atualizações de notícias. Tais ações estimulam nossa memória de curto prazo, pois precisamos processar e reter essas informações temporariamente para responder ou interagir com elas. Há muitos jogos educativos e aplicativos de treinamento cerebral disponíveis online que foram projetados para estimular o desenvolvimento cognitivo, incluindo a memória. Tais ferramentas podem ser divertidas e envolventes, ao mesmo tempo em que oferecem benefícios para o desenvolvimento da memória. Por outro lado, na era digital estamos expostos a uma sobrecarga de informações tão intensa, que é difícil processar, lembrar e recuperar informações relevantes quando necessário. Isso pode levar a uma diminuição na capacidade de retenção e recuperação de informações importantes. Mais uma vez, o equilíbrio é o caminho a ser trilhado. Sendo assim, por meio da educação, precisamos ajudar crianças e adolescentes a selecionar o que será consumido, bem como ter disciplina com relação ao tempo de consumo de tais informações para que a capacidade de concentração, atenção e foco sejam preservadas.

Concluindo

Na era digital, a proibição ao uso dos dispositivos tecnológicos seria muito mais um retrocesso. O que precisamos fazer é adotar uma abordagem equilibrada para o uso de dispositivos eletrônicos, promovendo um ambiente saudável e estimulante para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional de crianças e adolescentes. Podemos também oferecer um mundo tridimensional que seja mais atrativo. Logo, atividades como artesanato, modelagem, experimentos científicos, construção e engenharia, mediante o uso de blocos de montar, por exemplo, trabalhos manuais e experiências ao ar livre promovem o pensamento crítico, a resolução de problemas, o pensamento espacial e a autoconfiança, estimulando, assim, a curiosidade e a aprendizagem. Nosso cérebro agradece tal decisão! Ao oferecer uma variedade de atividades tridimensionais, pais e educadores podem ajudar a equilibrar o uso de tecnologia com experiências práticas e enriquecedoras que promovem o desenvolvimento holístico das crianças e adolescentes.

Autor: Andreia Fernandes

Pned e tecnologia na sala de aula
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