Há poucos meses, um ciclone extratropical foi o responsável por prejuízos incalculáveis no Rio Grande do Sul. Mais uma vez, devastação é a palavra que descreve o estado devido às enchentes que voltam a castigar a população. Se por um lado há danos, destruição e aniquilamento, por outro lado, há empatia, um elemento que tem mobilizado pessoas do Brasil e de outros países a realizar diferentes ações que possam aliviar a tormenta que assola a região. Entre tantos atos de solidariedade como campanhas de arrecadação de fundos, coleta e distribuição de suprimentos essenciais, abrigo e assistência emergencial, resgate e evacuação, apoio psicossocial, limpeza e reconstrução, surge uma pergunta: como as escolas podem se envolver na campanha Ajuda Rio Grande do Sul? Para responder tal pergunta, é preciso partir da premissa do desenvolvimento integral dos estudantes.
Na difusão de suas ideias, Platão já preconizava a ideia da criação de uma escola voltada para o desenvolvimento integral do ser humano. Hoje, a inserção das habilidades socioemocionais nos currículos escolares é um passo na direção do que o filósofo já propunha, há séculos, no processo de construção de um espaço escolar saudável, que vá além do conhecimento científico e das habilidades cognitivas e proporcione também uma alfabetização emocional e comunicação afetiva. As várias narrativas relatadas pelos rio-grandenses, diante das dificuldades enfrentadas, nos permitem visualizar o mundo de uma perspectiva diferente, até então, inimaginável para muitos de nós. A ajuda Rio Grande do Sul é um exercício de empatia e cidadania que podemos pôr em prática em nossas escolas, mediante um conteúdo mais humanizado.
Conteúdo do Post
Ajuda Rio Grande do Sul: exercício de empatia e cidadania
A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) tem na sua lista de competências a serem desenvolvidas nos estudantes a empatia e a colaboração “Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação”, bem como a responsabilidade e cidadania “agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação”.
Já o Casel (Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning), organização formada por um grupo de pesquisadores e criadora do termo “Aprendizagem Socioemocional” (ASE), tem como uma das habilidades a serem desenvolvidas a consciência social, que é a capacidade para compreender as perspectivas e sentir empatia pelos outros, incluindo aqueles de diferentes origens, culturas e contextos. Isso inclui também a capacidade de sentir compaixão pelos outros.
No Currículo Edify, por sua vez, a dimensão Social-Emotional Learning faz referência direta ao eixo estruturante que trata do desenvolvimento afetivo-emocional do aluno e ao pilar de Formação Integral e Formação Continuada.
Sendo assim, com base nas competências e habilidades presentes tanto na BNCC, como no Casel, e no Currículo Edify, podemos partir dos acontecimentos no Rio Grande do Sul para ajudar os estudantes a reorganizarem e reestruturarem suas experiências de aprendizagem, mediante o desenvolvimento de uma arquitetura socioemocional, onde a empatia e a consciência social sejam postas em prática.
Arquitetura socioemocional: abordagem da gentileza na Ajuda Rio Grande do Sul
Para tornar o tema dos acontecimentos no Rio Grande do Sul menos denso, porém não menos sério, podemos explorar a questão da arquitetura emocional nas escolas através da criação de Atos de Gentileza ou Acts of Kindness. Para tal, os professores de inglês, por exemplo, podem explorar algumas frases e discutir seus significados com os alunos. Alguns dos temas podem ser “Kindness begets kindness” (Gentileza gera gentileza); “One act of kindness can change someone’s day” (Um ato de gentileza pode mudar o dia de uma pessoa) e “Help people even when they can’t help you back” (Ajude as pessoas mesmo quando elas não podem lhe ajudar). A partir dos conteúdos trabalhados, os professores podem pedir que os próprios alunos sugiram que atos de gentileza eles podem realizar, dentro de suas possibilidades, para ajudar os rio-grandenses. Com certeza, surgirão muitas ideias valiosas, que poderão ser postas em prática. Vamos ver outras ações!
Apoiar causas específicas
Os professores podem orientar os estudantes a abraçarem causas específicas como crianças, animais, estudantes etc. Para tal, eles podem optar por ajudar os animais, através da doação de ração; podem auxiliar outros estudantes doando material escolar; podem ainda amparar crianças fazendo doações de brinquedos, roupas, produtos de higiene pessoal e água potável.
Realizar Competições e Desafios
Uma outra iniciativa para incentivar a arrecadação de donativos nas escolas é promover uma competição saudável entre as turmas: a campeã será a que conseguir mais itens a serem doados. Tal ação aumenta o engajamento dos estudantes e incentiva uma atmosfera de solidariedade e cooperação.
Estabelecer Parcerias
A promoção de parcerias com instituições locais, como igrejas, ONGs e unidades de assistência social, ajuda as escolas a garantirem que as doações sejam diretamente entregues às pessoas necessitadas.
Promover Eventos Beneficentes
A realização de eventos beneficentes na escola, como bazares, feiras de alimentos ou shows de talentos, permite que a renda arrecadada seja destinada à compra de itens que os rio-grandenses mais estejam precisando no momento. Tal iniciativa também promove uma participação ativa dos estudantes e comunidade escolar.
Realizar Parcerias Locais
Estabelecer parcerias com supermercados, lojas de roupas e farmácias, por exemplo, é uma forma eficiente de fazer com que as empresas locais contribuam com doações ou ofereçam descontos especiais para quem doar itens para a campanha Ajuda Rio Grande do Sul.
Conscientizar e Sensibilizar
De forma interdisciplinar, as escolas podem incentivar a criação de atividades educativas sobre desastres naturais, através de palestras, debates e exibição de documentários para conscientizar os alunos sobre a situação das famílias afetadas no Rio Grande do Sul e a importância da solidariedade.
Criar o Dia da Doação
As escolas podem criar um dia específico para a arrecadação de doações. Em tal dia, haverá atividades temáticas e motivacionais para incentivar a participação dos estudantes. Tais atividades podem incluir jogos, apresentações culturais e concursos de arrecadação.
Divulgar nas Redes Sociais
Os estudantes que já são adolescentes podem usar as redes sociais para divulgar campanhas de arrecadação e sensibilizar um maior número de pessoas, incentivando não apenas outros alunos, mas também suas famílias, amigos e a comunidade em geral para participarem.
Lançar Desafios Criativos
Mediante o lançamento de desafios criativos, os estudantes podem criar vídeos, músicas, poesias, desenhos e cartazes que incentivem as doações para o Ajuda Rio Grande do Sul. Os trabalhos vencedores podem ser premiados e divulgados nas redes sociais das escolas.
Organizar Atividades Esportivas Beneficentes
Promover eventos esportivos, como corridas, caminhadas e torneios de futebol, vôlei, ping-pong, por exemplo, onde a inscrição está relacionada à doação de itens específicos para as famílias desabrigadas, é uma ótima oportunidade de incentivo tanto à prática de atividades físicas, como ao exercício da empatia e da cidadania.
Essas são apenas algumas sugestões, mas é importante adaptar as ações de acordo com a realidade e os recursos disponíveis em cada escola para que a Ajuda Rio Grande do Sul seja, de fato, eficiente. Considerando o desenvolvimento de uma arquitetura socioemocional nas escolas para a formação integral dos estudantes, um dos pontos mais importantes neste processo é a criação de um ambiente de empatia, solidariedade e colaboração que envolva estudantes, educadores e comunidade escolar como um todo.
Autor: Andreia Fernandes