Quem conseguir ler estas próximas palavras, sabe bem como é uma sala de aula. É porque você, provavelmente, foi alfabetizado do jeito mais tradicional que conhecemos. Se fecharmos os olhos, vamos lembrar de alguns momentos que muitos de nós já tivemos a chance de vivenciar: dia da prova, hora da entrega da nota e da chamada por ordem alfabética, amizades novas e outros momentos muitas vezes inesquecíveis. É possível, também, descrever os elementos físicos mais comuns da sala de aula: quadro branco, carteiras, mochilas, lancheiras, caneta, caderno, lápis, borracha, apontador, etc.
Chegou a dar certa nostalgia ao lembrar do tempo em que o início das aulas se aproximava? Eram tempos de novos amigos, novos professores e de todos os desafios que o ano escolar nos colocava pela frente. Muito tratado em filmes, a sala de aula já foi cenário de ilustres películas de Hollywood.
E vai continuar sendo, sem dúvidas. Mas agora é preciso imaginar novas arquiteturas para esse modelo tradicional. A sala de aula como a conhecemos na maior parte do mundo, que teve sua origem na era da Revolução Industrial, não tem mais espaço para ser concebida com a mesma ideia de aplicar o modelo das fábricas.
Não é porque a escola vai mudar radicalmente, mas é porque os professores e os estudantes que estão vivendo na pele a transformação digital voltarão às salas de aula com novas visões de como usar tecnologia na educação. E, no meio de tantas novidades surgem muitos termos novos, como o EAD, homeschooling e o ensino online.
Em todos os níveis a educação busca inovação tecnológica e metodológica. As inovações, em geral, estão aliadas à modalidade de educação a distância (EAD). A EAD é a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias digitais de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares fora da sala de aula com quatro paredes. Esta definição está presente no Decreto 5.622, de 19.12.2005 (que revoga o Decreto 2.494/98), que regulamenta o Art. 80 da Lei 9.394/96 (LDB).
Ensino à Distância
A instituição de ensino que opta pela oferta da modalidade EAD para seus alunos precisa ter infraestrutura técnica para garantir o bom funcionamento do contrato pedagógico. Muitas mídias e profissionais são envolvidos, como, por exemplo: aula gravada em vídeo, apresentações, links para sites, artigos científicos como referência, exercícios para realizar remotamente, além de, para citar alguns profissionais, o designer instrucional, o professor-tutor, o conteudista e o revisor.
No ensino superior, o Ministério da Educação (MEC) ampliou a permissão para aulas a distância em cursos de graduação presenciais. Agora, até 40% da carga horária poderá ser feita a distância. Até então, o limite máximo fixado pelo MEC era de 20%. A regra não vale para as graduações em saúde e engenharias.
O estudante faz o curso em sala de aula e laboratórios tradicionais, mas também, estuda com matérias construídas para a modalidade EAD. O mercado inclui, assim, a modalidade semipresencial. Na pós-graduação stricto sensu o Mestrado Profissional também pode ser feito a distância.
A pandemia do novo coronavírus forçou que as aulas presenciais, em muitos casos, se tornassem remotas. Mesmo naquelas instituições que já ofereciam EAD, para haver manutenção das aulas sem prejuízo de conteúdo para os estudantes, foi preciso mesclar com esse ensino remoto outras plataformas que mediassem aulas síncronas e assíncronas ao horário em que o aluno estava matriculado. Faz-se necessário, portanto, esclarecer conceitos que acabaram ficando confusos para pais, professores e até diretores de escolas: EAD, homeschooling e ensino online.
Para ser considerado EAD o ensino se vale da transmissão de informação a distância. Em termos práticos, o aprendizado depende do aluno, pois é ele que monitora seu próprio progresso no que tange à organização do tempo de execução das tarefas que são demandadas. Uma graduação feita 100% na modalidade EAD terá aulas em vídeos, conteúdo para leitura, fórum de discussão entre alunos e professores, prova realizada em um sistema digital e correção automática.
Na medida em que o aluno avança sozinho, uma estrutura de suporte oferece orientação ao estudante. Em alguns casos, para manter os laços com os estudantes, uma das provas pode ter que ser realizada na unidade física na qual o aluno se matriculou. Não é uma regra, mas, em geral, acontece assim no ensino superior. A Associação Brasileira de Educação a Distância mantém eventos na área que ajudam a fortalecer o entendimento do termo pela sociedade científica.
Homeschooling
Por sua vez, acabou entrando em questão neste momento porque escolas começaram a ensinar remotamente os estudantes que tiveram aulas canceladas por conta do isolamento social. Em português este termo poderia ser traduzido para educação domiciliar. A criança não estaria matriculada em uma escola e deveria ser alfabetizada pelos responsáveis.
A proposta, legalizada em países, como Estados Unidos, Áustria, Bélgica, Canadá, Austrália, França, Noruega, Portugal, Rússia e Nova Zelândia, exige uma avaliação anual dos alunos por estes países por parte do governo. Há casos, por outro lado, em países como Alemanha e Suécia, em que homeschooling é considerado crime e já houve casos de pais multados, presos e que perderam a custódia dos filhos.
Existem diversos possíveis motivos para a família não matricular os alunos na escola. Alguns alegam que têm medo que o filho sofra bullying pelos colegas. Há pais, porém, que encaram o ensinar em casa como uma filosofia de vida. No Brasil não há lei que ampare essa decisão.
Se hoje a criança que está em casa, tendo aulas por computador, celular ou whatsapp, com seus professores da escola, demanda que os pais estejam mais próximos das tarefas destes pequenos, isso tudo não se aproxima do homeschooling. Afinal, a criança ainda está matriculada na escola. Essa decisão é temporária.
Se vai mudar algo pós-COVID19, isso é assunto de outro artigo. A lição que tiramos é que os professores estão sendo bastante criativos na hora de ensinar uma criança de Ensino Fundamental I, por exemplo, por vídeo. A verdade é alguns pais também estão se descobrindo professores. Outros ainda precisam reconhecer o valor do professor no processo de alfabetização das crianças.
Ensino Online
Quando a expressão ensino online entra, é importante ressaltar que esse termo online remete ao ambiente digital. É aqui que entram ferramentas de videoaula, aplicativos, jogos digitais e todo o ferramental que temos descoberto hoje para não deixar os estudantes sem aula.
Neste sentido, quando ensinamos online, não significa que estamos praticando EAD, pois esta modalidade requer legalização para funcionar por parte dos órgãos federais que fiscalizam a educação brasileira. Se comparado ao homeschooling, ensino online também não deve mais se confundir com essa modalidade, pois se uma aula chega em vídeo para o estudante, não significa que são os pais os responsáveis por ensinar aquele conteúdo ao filho. Os pais só estão mediando e colocando a mão na massa no que antes era feito por aulas de reforço na própria escola.
Independente da confusão conceitual que os termos EAD, homeschooling e ensino online podem trazer, quando o isolamento social acabar, é preciso que um debate seja feito entre todos os públicos de interesse na educação. É hora de desenhar em conjunto, em postura dialógica, de como deve ser a nova sala de aula. Chegou a hora de ressignificar esse espaço.
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